sábado, 28 de novembro de 2009

Soundtracks

Outro dia comentava com um grande amigo músico sobre como o caminho das trilhas sonoras nos filmes vêm se modificando, se moldando nos últimos tempos, e como estas retratam tão bem uma época, sua contemporaneidade.
É interessante como Hollywood, por ser a maior e mais poderosa indústria cinematográfica do planeta, acaba funcionando como o grande termômetro, apontando tendências e estilos.
Durante a conversa reparávamos como as trilhas minimalistas vinham tornando-se mais e mais frequentes, aquelas com predominância de grooves, ritmos, mais modais... menos românticas, sentimentais, mais diretas e "sêcas", menos sinuosas. Vide "Cidade de Deus", ou "Ocen 11"... ou todas do Tarantino, fantásticas.
Mas é muito especial e mágico como algumas dessas trilhas podem nos marcar a tal ponto que nunca mais conseguimos esquecer aquela sensação, o impacto causado pela primeira exposição ao filme ou a uma cena. Muitas vezes isso acontece por causa da trilha... e na maioria das vezes nem nos damos conta disso ( segundo Alan Mencken, que trabalha com a Disney, isso é justamente um sinal de que a trilha é boa, quando não a notamos mas ainda assim nos emocionamos com ela).
Lembro bem que, mais do que das cenas, do roteiro ou dos atores, nunca esqueço do tema principal de Summer of '42 ("Verão de 42", que vi com meus pais na década de 80).
O mesmo aconteceu com "Lolita" de Kubrick, cuja trilha composta por Nelson Riddle marejaram meus olhos logo à primeira audição.
Quem não se lembra dos temas de Star Wars, E.T., o Terminal ( cujo tema principal é fantástico), Harry Potter, Indiana Jones, A.I, Jaws... todos de John Williams? Tenho uma paixão especial pela trilha de E.T.
Quando Elliot está na floresta à toda em sua bicicleta, com E.T. na cestinha da frente (refiro-me àquela sequência famosa: o inconfundível 'vôo com a Lua cheia ao fundo') no momento em que eles finalmente 'decolam' não há como não ir às lágrimas. Mas se reparamos bem, por trás daquela linda cena a trilha traz uma série de modulações e caminhos que vão nos 'conduzindo' até chegarmos finalmente no ponto culminante: o do "alçar vôo" , que é justamente quando a melodia desemboca no deslumbrate tema principal: incrível.
Mas a música pode ser para chorar, rir, ter medo... Henri Mancini (Pink Panther), Bernard Herrman ( Citizen Kane, Psycho, Taxi Driver), Lalo Schiffrin (Missão impossível, que alguns afirmam categoricamente ser de Moacir Santos), Bob Belden ( Black Dhalia), Vangelis (Blade Runner), Phillip Glass (Koyaanisqatsi, Mishima, Kundun). Johnny Mandel, que escreveu a comovente The Shadow of your smile (The sandpiper). Mandel, assim como Benny Golson, era também um grande compositor de séries de TV.
Artistas do universo Pop, como o irreverente Randy Newman, também deram suas contribuições. Este, por exemplo, compôs e interpretou a divertida "you've got a friend in me", do filme 'Toy Story'. Também criou os divertidos main themes para Bug's Life e Monsters S.A ( este último no melhor estilo "old Swing").
Há também os grandes europeus, como um Morriconne ( Cinema Paradiso, outra pérola), um Nino Rota ( The Godfather), o próprio Michel Legrand ( Verão de 42'), mais recentemente Alexandre Desplat ( The Curious case of Benjamin Button). E também os latino-americanos, que vêm ganhando espaço, como o recente vencedor de dois 'Oscar' (por Babel e Brokeback Mountain), Gustavo Santaolalla.
Mesmo quem não seja apaixonado pos trilhas, como eu, possivelmente terá (ainda que não lembre ou não saiba!) ao menos uma que lhe é especial, "aquela", do coração . E quando se ouve logo se identifica, pois vem aquele nó na garganta, um suspiro, um sorriso.... ou ainda melhor: todos juntos!

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Europe fall 09'.

It's aways good to be back home!
What I can say is that Berlin is one of my favorite places in the world: wonderful vibe, sophistication, modern places and people, art,
wonderful crowd, what a fantastic city.
Skopje is a unusual, very facinating place ( as Cyprus as well), with warm people and wonderful food. Athens is a completely diferent history. Just to be there is 'breathtaking'... you feel to be exactly where everything was happening... it's just so hip.
We went back home happy but exausted. In fact, it was a intense trip in a sense of so many flights... in so little time!
But after all that... home sweet home.
C.

Europe Fall 09

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Album of the week

WIDE ANGLES, by Michael Brecker.



A landmark album. Spetacular writing by both Brecker (as a composer) and Gil Goldstein ( arranger and co-producer).
Beautiful performances by the rhythm section (Adam Rogers on guitar, John Patitucci on bass and Antonio Sanchez on drums), by the horn and string players as well! A very different orchestration texture, kinda impressionistic and very powerful at the same time. Brecker is playing his horn ferociously, but in a lyrical way, as aways. In just a feel words - gorgeous.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Diário de Bordo

Oi pessoal,
Os últimos 30 dias têm sido muito corridos, por conta do processo do CD novo, que começou bastante intenso.
Assim que chegamos de viagem da Europa em Julho ( mais precisamente dia 12) comecei já a escrever os arranjos, pensando as instrumentações, conceito, letristas, com a diferença de que há 2 músicas de outros compositores ( aliás, fantásticos, de quem sou fã há muito tempo).
Depois de tudo pronto, entramos em estúdio para o ensaio em São Paulo... o material quase todo desconhecido, novo.
Começamos enfim a gravar na semana do dia 17 de Setembro.
Toda a parte Brasileira (músicos conterrâneos envolvidos, convidados, etc) foi registrada em sua performance.
O estúdio escolhido foi um relativamente novo pra mim ( havia gravado umas 2 ou 3 vezes somente), o NaCena.
Parto então para Denver para registrar alguns takes. Terminadas as gravações em Denver vim direto para Los Angeles, para dar continuidade ao trabalho, de onde estou escrevendo ( daqui se vê a fumaça do grande incêndio espalhada por toda cidade)... damos sequência às gravações por aqui e volto à terrinha em breve.
Estou apenas um pouco triste de estar perdendo neste exato momento Brasil X Chile... mas são ossos do ofício muito bem vindos.
C.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

United breaks guitars

This is a video a guy shoot based on a true story, actually he went through this, like many of us.
Check this out:

sábado, 8 de agosto de 2009

Formação e informação...

Tenho estado um pouco farto dos noticiários; os matutinos, revistas, telejornais, a internet... não por algo específico, mas sim por uma série de razões; leia-se 'notícias'. Cá entre nós, não está brincadeira!
Veja por um lado o caso dessa exemplar cidadã, que por acaso trabalha em minha casa há bastante tempo, a Gê: ela sustenta quatro (eu disse q-u-a-t-r-o) filhos com o salário que recebe todo mês, batalhado real a real, e ainda assim chega invariavelmente com a disposição contagiante que lhe é peculiar 'bom dia seo Chico, o café está na mesa'. Ainda paga honestamente seus impostos, como todos nós cidadãos... isso teoricamente, é claro.
Por outro lado, abrindo o jornal logo na capa me deparo com a manchete em letras garrafais: "Presidente do Conselho de Ética arquiva todas as acusações restantes contra Sarney".
A esta altura vocês vão pensar "que raios ele está falando, que conexão teria a Gê e seu digno ganha pão com o caso dos Sarney?". Simples, são dois exemplos claros de duas classificações antagônicas: a da Gê - cidadã direita, honesta, com C maiúsculo, e a desse político, essa figura pública conhecida (melhor não dizer aqui em qual classificação se encaixaria).
Pois bem, ao ler essa notícia do arquivamento, despertou-me novamente aquele sentimento que evito tanto, não sei ao certo se uma ojeriza, indignação, ou mesmo uma pungente desolação que muitos chamariam de solidão. But the life and the show must go on!
Voltemos a realidade; essa politicalha brasileira não inventou a aura escura que ronda o senado ( ou a política geral), os senadores da Roma Antiga já se refestelavam usando os mesmos artifícios que os atuais continuam a se utilizar, e que estão nas capas dos jornais, noticiados à fartura, pra quem quiser ver.
O que me espanta mesmo é, em pleno século 21, continuarem toda essa farra, sobretudo protegidos por uma lei que eles mesmos criaram para burlarem a pena que aplicam severamente no cidadão comum, isso é, a Gê.
"Atos secretos"? Em pleno 2009? No way!
Enfim; o melhor a se fazer quando essa 'pungente desolação' ensaiar sua aparição dentro na gente , é se dispensar a tal "informação" ( pelo menos por hora), e optar pela "formação"; vá de Fernando Pessoa, Shakespeare, Jung, Machado de Assis, Nietzsche, Platão, Schopenhauer... todos eles nos falam destas mesmas fraquezas humanas, com uma grande vantagem: a de que, certamente, chegaremos ao final das leituras mais inspirados, e felizes!

terça-feira, 28 de julho de 2009

Dois ídolos...

Pessoal, antes de mais nada, que bom estar de volta à terrinha...
Assisti esse vídeo assim que voltei e lhes digo: fiquei cheio de alegria de estar por aqui, com tudo que seja; Sarney e os atos secretos, a gripe por aí ... mas temos um Jackson e um João pra nos alegrar! Pois aí vão os dois gênios de uma só vez, essa dupla maravilhosa.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Back to the Ipod...


One of the things I like the most while jogging, I mean, running around the neighborhood ( yes, it's aways good to take good care of your health. As a musician, there's this physical aspect of playing an instrument that we should take it seriously...) is to listen to some nice tunes, each day a different playlist, depending on the mood.

Hermann Scherchen and Cologne Radio Symphony Orchestra - A. Schönberg: Pelleas und Melisande Op. 5; Friede auf Erden Op. 13; Erwartung Op. 17
George Garzone - Four's and Two's
Philippe Baden e M. Adnet - Afrossambajazz
• Claus Ogerman & Danilo Perez - Across the Crystal Sea
Yamandu Costa - Ida e Volta
Alex Sipiagin - Mirages
Nat King Cole - Lush Life

terça-feira, 7 de julho de 2009

Do velho continente

De repente os dias ficaram curtos: trens, aviões, aeroportos e vans demais e tempo de menos! Por isso esse hiato momentâneo...
Pelo velho mundo tudo continua muito bem. Todos ficamos bastante emocionados com o público fantástico, os venues tão hospitaleiros; o que dizer da Europa? Tantas coisas boas. Ela é apenas um pouco longe do nosso Brasil, isso é bem verdade. Mas uma coisa há que se acrescentar: come-se maravilhosamente bem por aqui! E os menus, tão diversos quanto saborosos, compensam qualquer vôo, por mais longo e cansativo que este seja.
Portugal sempre será algo à parte. Sentimo-nos em casa, desde o Porto, na Casa da Música, depois Lisboa, na Aula Magna e Faro, uma cidade encantadora e igualmente calorosa. Ali no palco todos ficávamos muito comovidos a cada show. A Itália em sua primeira noite teve um fantástico wine tasting; vinhos da região Sul muito delicados acompanhados de pratos deliciosos (basta ver a expressão de felicidade do Edu sentado à mesa), um restaurante agradabilíssimo. E o café clássico... il machiatto! Depois vieram as gravações e o concerto no belo 'Palazzio de Fienga'. Foi bem corrido o schedule, tão corrido que não havia muito tempo para fotos ou outros afazeres que não a preparação para os concertos e os translados. Ainda assim, algumas podem ser vistas nesse link: Euro-09'.
Talvez quando voltarmos prepare um pequeno roteiro "degustação" com cafés, restaurantes e lugares aos quais recomendaríamos aos amigos... são tantos! (agora de Paris).
Bjs,
C.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Diversão e arte... diversão é arte!

Como já dizia Mick Goodrick: " não é porque é sério que não pode ser divertido... e não é porque é divertido que não pode ser sério"... aí está!





quarta-feira, 10 de junho de 2009

São Paulo 24 hs


Paris Jazz Big Band - Paris 24 hs
John Taylor, Steve Swallow & Gabriele Mirabassi - New Old Age
The terminal Soundtrack - John Williams
Toninho Horta - Moonstone
Larry Goldings - Whatever it takes
Konstantin Scherbakov - Shostakovich: Piano Sonata No. 1 - 24 Preludes, Op. 34
Nelson freire - Nelson Freire Interpreta Villa Lobos
Simon and Garfunkel - The Concert in Central Park
Here's some of the stuff I've been checking out lately.
The Paris Big Band has such an incredible and tight horn section plus some beautiful arrangments/ compositions... is absolutely worth to listen to this guys!
I met Gabrielle Mirabassi two years ago, at this Jazz project we played in São Paulo... we became friends at that time and he gave me an album... such a lirical album. The trio sounds great with no drums.
John Williams is like one of those "you-must-listen-to" composers of our days... an amazing musical mind. This particular score "The Terminal" brings a Jazz flavor within ( it has to do with the history) that I enjoyed so much.
Back in 98', while living in Boston, I was checking out some cds at this store, and suddenly they start playing an album with a guitar player that knocked me out! I asked to the guy "who's playing??" It was Peter Bernstein, and the album was Whatever it takes, by Larry Goldings.
Shostakovich is one of the greats from Russia ( St. Petersburg)...I love this album. Another combination that can't go wrong: Nelson Freire and Villa Lobos.
Moonstone is one of my favorite albuns by Horta. The title track's version, with two guitars, him and Metheny, it's a classic. Paul Simon is a terrific songwriter... this album has all those classics and more, a Landmark. There's also a DVD with that Central Park Concert, wonderful... enjoy!

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Boas Novas

Aqui nesse mesmo espaço já comentei 'en passant' que, não sei porque, teimo em nutrir uma certa ingenuidade em relação ao ser humano, quase pueril, quase tola, talvez por influência de Darcy Ribeiro. Eu concordo com o professor quando em sua obra "O povo brasileiro" se refere à confluência racial ocorrida no Brasil como "uma mistura que deu certo", entre índios, negros e europeus: um país sincrético, novo, que embora seja feito de matrizes díspares, se comporta como um só.
Mas depois de tanta água por baixo da ponte e ainda assim vivermos em um cenário atual cada vez mais caótico, agressivo, corrupto, intolerante, alguém eventualmente dirá que a minha crendice na humanidade vai minguar, depois de tomar insistentes "bordoadas" aqui e acolá, para finalmente sucumbir à inclemente realidade dos fatos: as coisas não vão bem.
Há muito o que se melhorar para que enfim façamos jus à alcunha de "espécime fantástica, única dotada de polegar opositor, razão, emoção, de amar, capaz de fazer coisas das mais extraordinárias", de que tanto nos orgulhamos.
Seria utopia, desvarios de alguém que sonha acordado?? Não sei. Mas uma coisa é certa: precisamos é inventar o Brasil e o mundo que queremos viver, cada um de nós, e o mais rápido possível!
Darcy Ribeiro sorriria ao saber de iniciativas como esta que, no mínimo, achei interessante (até onde eu sei também inédita por aqui): um site dedicado às Boas Novas, idealizado por Ruy Drever ("Paulistano" nascido no Uruguai) que reporta apenas o que acontece de construtivo, positivo por aí ( seja nas artes, nas instituições, pelo mundo, enfim).
Evidente que coisas assim não podem nem devem nos anestesiar, nem se prestarem a embriagar... de forma alguma! Pelo contrário: a coisa precisa desesperadamente entrar nos trilhos, mas é imperativo não esquecermos que cada um de nós é parte fundamental nesse processo.
Quando vi o filme Milk, brilhantemente interpretado por Sean Penn, saí revigorado, com a nítida sensação: one can make the differece!! (isso para não citar os heróis históricos conhecidos de todos nós).
É sempre bom lembrarmos que, se há alguma luz no fim do túnel, que a gente faça por trazê-la para mais perto... é possível.

domingo, 24 de maio de 2009

Again.... and again.

There's something about the following scenario: a beautiful voice surrounded by a good orchestra performing a gorgeous song, that simply makes me want to listen to it over and over and over... it can be either an Opera, a Broadway Song or a charming Bossa (it doesn't matter), that's the same feeling I have every time I watch certain movies (in that case, not just any movie, but some specific ones...I can think of a couple right now: Modern Times, Billy Elliot, Blade Runner, E.T., Lolita, Hable con Ella, Butch & Cassidy, The curious Case of Benjamin Button, Amarcord, Cinema Paradiso, The Lives Of Others... and so on). It just feels like seeing it again... and again...


State/ João Gilberto/ arranging: Claus Ogerman


Tristan und Isolde - Liebestod (Wagner)/ Waltraud Meier/ conducted by Baremboin


Cry me a River/ Diana Krall/ arranging: Claus Ogerman


The Way you Look Tonight ( Kern)/ James Taylor/Conductor: John Williams

sexta-feira, 22 de maio de 2009

O pó da estrada.

Não é toda hora que temos a oportunidade de declarar a admiração pela arte de alguém assim, pessoalmente.
Nunca tive essa chance com Jobim, que não conheci pessoalmente, ou mesmo Gershwin, Cole Porter, Hendrix, Van Gogh, Charles Chaplin... evidentemente nunca mais realizarei tais sonhos.
Já com Zé Rodrix , Graças a Deus, foi diferente.
Frente a frente com meu ídolo de infância, por ocasião da festa de encerramento do saudoso Bar Supremo Musical ( ali no Backstage, as emoções já afloradas), consegui dizer à queima-roupa, a voz já um tanto embargada, o quanto sua música fazia parte de minhas primeiras histórias, minha infância.
Disse a ele que aprendi com minha mãe "Mestre Jonas", "Blues Riviera", "Pó da estrada"... que tinha um carinho imenso por tudo que tinha escrito, que cheguei a tocar num velho violão Del Vecchio a "Primeira canção da estrada" (até as 4ªs em pirâmide do final, ele riu), que ele era uma figura rara e um compositor fantástico. Dito tudo isso, voltei pra casa cantarolando "Casa no Campo", realizado. Gostaria de dizer tudo novamente, tantas vezes quanto pudesse!
Assim que soube de sua partida, instantaneamente coloquei o "Mestre Jonas" no máximo. Os olhos marejaram.
Resolvi então escrever, apenas para contar mais uma vez do meu incrível apreço por ele e agradecer por sua música; Obrigado Zé!

quarta-feira, 13 de maio de 2009

'Sala de Ensaio' em SP dias 28/05 e 04/06.



Sala de ensaio, ou "sala de estar com música ao vivo", como queiram.
Escolhi com carinho um espaço para realizarmos uma prévia das turnês, e também testar canções inéditas do próximo disco. A sala Crisantempo , que fica bem no coração da Vila Madalena, oferecia as condições ideais: um Teatro encantador, com Foier/Bar agradabilíssimos, astral bacana, aconchegante e ao mesmo tempo bem equipado, oferecendo ótima vibe para que a música seja plena e o ambiente casual. Os shows acontecem às quintas-feiras: a última de Maio e primeira de Junho. Todos são muito bem vindos à nossa "Sala de Ensaio", em SAMPA.
C.
p.s. Antes que me esqueça: A D'addario, minha parceira e Sponsor já há algum tempo, está sorteando dois pares de ingressos e um kit d'addario. Aí vai! Ingressos D'addario.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Engenho e Arte

" As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;

E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis, que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando;
E aqueles, que por obras valerosas
Se vão da lei da morte libertando;
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte."
Luíz Vaz de Camões

Dentre Santistas, Palmeirenses, São paulinos, Corinthianos, Flamenguistas, Cruzeirenses, Atleticanos ou gremistas (não importa!), todos hão de concordar com a afirmação: Ronaldo tem o engenho e a arte, isso é inegável. Poucos são os jogadores capazes de criar momentos de tal magnitude e beleza, mas quando o fazem elevam o velho esporte bretão à condição de arte, arte sublime. É bonito de se ver. 

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Dica da semana: Lu no Bourbon, dia 05.


Não é de hoje que conheço o trabalho de Lu Alves.
Desde 2000 ela vem cantando e viajando comigo pelo mundo afora. Diga-se de passagem, de forma notável, fantástica, fundamental; pois seja lá onde Lu coloque sua voz, uma canção ganhará dimensões e contornos aparentemente inatingíveis - Lu hoje é uma das maiores cantoras em atividade no país (sem nenhuma concessão), simples assim. Portanto a dica da semana é seu show de estréia com banda estelar no Bourbon street em São Paulo. O repertório traz Paulinho da Viola, Chico César, Chico Buarque, Wisnik, Gil, Céu, e por aí vai. Os grandes Fabio Torres, Paulinho Paulelli, Edu Ribeiro e Swami Jr se encarregam de acolchoar a linda voz da cantora. Terça feira lá no Bourbon.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Why do we never get tired of it?


Could music be defined as some kind of drug, a fuel, an incredible moving force surrounding us all?
Absolutely! Thank's God for putting the ipod into our lives... oh yes!


Dori Caymmi - Contemporâneos
Helio Alves e Duduka Da Fonseca - Songs From The Last Century
Fleurine - San Francisco
Tom Jobim & Elis Regina - Elis & Tom
Edu Lobo - Camaleão
Gilberto Gil - Refavela
Chico Buarque - Meus Caros Amigos
Rosa Passos - Morada do Samba
Sérgio Santos - Mulato
Yamandú Costa - Lida

Artigo no 'O Globo'.


Não sou (e nunca fui!) de me remoer sobre as mazelas políticas de nosso país. Acho que o Brasil e os brasileiros são muito maiores do que tudo isso, todo esse escárnio político a que somos submetidos não há dez, vinte, cinquenta, mas há muitos anos... há séculos (e não sou o primeiro a dizê-lo). É vero, sempre tive esse otimismo intrínseco como o do professor Darcy Ribeiro... quase incurável, quase pueril. Contudo, infelizmente, não consigo ficar impassível como cidadão e contribuinte, aos descalabros que acontecem nos bastidores e que mais e mais vêm sendo reportados. Essa semana, só para ilustrar, mais dois episódios me saltaram aos olhos; a discussão no STF entre os ministros Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes, e a chamada "farra das passagens" no congresso; o judiciário e o legislativo nos revelando mais uma vez o quão maravilhosamente bem, sempre em prol do povo e jamais em benefício próprio, trabalham.
A jornalista Cora Rónai tratou de escrever um artigo providencial que saiu no jornal "O Globo" do Rio, cujo título não deixa dúvidas sobre o estado de espírito que anda pairando no ar, ganhando força pelas ruas, nos cabeleireiros, nos ônibus, botecos, escritórios, nas seções de cartas de leitores, na internet, enfim: "Bando de traíras irresponsáveis!".
Quando li a notícia, lembrei logo do meu querido parceiro Aldir Blanc, que tão bem resumiu em "Querelas do Brasil"
( e aqui com duplo e garrafal " S " !!):
O Brasil não merece o Brasil.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Pelé, Pepe, Coutinho - Edu, Chico e Tom.

Não tem coisa melhor do que as amizades que fazemos ao longo da vida, é o que se leva com a gente mas também o que se deixa por aqui nas memórias, nos corações. Melhor ainda é celebrar isso batendo uma bola ou cantando uma canção linda dessas. Que beleza, que três craques!

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Em algum lugar.

Parece que em algum lugar praticamente inacessível ao homem urbano, ali pelo meio da Amazônia de árvores altas e fauna exuberante, existe uma tribo. Uma comunidade que, dizem, por séculos permanece isolada, alheia às transformações sociais, culturais, científicas e tecnológicas como as conhecemos... do Império Acádio na Mesopotâmia às invenções do americano Thomas Edison, da Ilíada e Odisséia de Homero ao Ragtime de Jelly roll Morton, do iluminismo à proliferação maciça da televisão e mais recentemente da internet pelos quatro cantos do globo, das reformas de Solon nas leis em Atenas às inúmeras emendas aprovadas pelo Congresso brasileiro... ah, o Brasil!
Dizem que nessa tribo as crianças são tratadas como crianças, com profundo respeito, sendo integradas de forma harmoniosa e sábia ao mundo dos adultos. Às mulheres e aos homens são reservados a dignidade, justiça, compreensão, liberdade, diversão e arte, ao que todos retribuem com gratidão, generosidade, presteza e honestidade.
As regras de convivência e as "leis", são elaboradas e aprovadas eficientemente, sempre visando claramente o bem comum, nunca o individual ou parcial. E o mais curioso, são seguidas expontaneamente pela maioria, pois acreditam piamente (por algum motivo inexplicável) que se prejudicarem um semelhante arbitrariamente, estariam prejudicando a si próprios.
Portanto têm prazer em ajudar uns aos outros, mantendo-se sempre dispostos a estenderem a mão ao próximo, com leveza e bom humor. Por alguma razão que ainda não se sabe, a civilidade está em voga por lá,  praticada de forma voluntária e prazerosa.
Àqueles que são atribuídos a honrosa incumbência de representarem os demais ( por escolha aberta e democrática), aceitam tal honraria como uma missão importantíssima,  fundamental, e buscam com tanto afinco corresponder às expectativas depositadas.
Não há nenhum representante eleito dono de Castelo ou patrimônio milionário, tampouco desempregados à míngua. Não existem especuladores banqueiros nem governo corrompido, refém e cúmplice de um sistema apodrecido maior do que ele. Não há policiais corruptos, pois sem violência digna de nota não há a necessidade de policiais. Os assuntos são todos resolvidos através do teatro ( arte extremamente cultuada neste povoado), onde os oponentes envolvidos simplesmente "encenam" uma peça em que expõem suas questões e argumentam à exaustão numa espécie de  jogo, até que por fim o perdedor, graciosamente, aceita a vitória do adversário para depois beberem à saúde de todos.
Não há nem mesmo dinheiro, tudo é feito na base de escambo,  mas são avançadíssimos em matemática, astrologia, geologia e botânica, artes plásticas, música, literatura, teatro ( especialmente o de humor, à la Comédia Dell'Arte), e até filosofia.
As palavras de ordem são, como diriam os franceses:  joie de vivre! ou Horácio:  carpe diem!
Dizem que existe, SIM, essa gente...  ali no meio da floresta de árvores altas e fauna exuberante. Ou pelo menos assim quero acreditar.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Música, sempre...


Alexandre Desplat - The Curious Case of Benjamin Button
Antonio Sanchez - Migration
Raphael Rabello - Todos os Tons
Mike Moreno - Third Wish
Me'shell NdegeOcello - Confort Woman
Michael Brecker - Pilgrimage
• Ivan Lins - Saudades de Casa
• Muiza Adnet - As canções de Moacir Santos
• The Neil Cowley Trio - Displaced (Bug)
Pierre Boulez: Cleveland Orchestra - Debussy: La Mer, Nocturnes

These days I've been listening to some cool diferent things. One of the things that grabbed my attention was The Curious Case of Benjamin Button's beautiful soundtrack, by Alexandre Desplat. Mike Moreno (New York) happens to be a great composer, besides a wonderful guitar player.
Antonio Sanchez ( from Mexico) is one of my favorite drummers nowadays... his sound, musicality and fluency is just phenomenal.
Raphael is such a beautiful, spetacular guitarist... one of my all time favorites...
Me'shell has this deep groove coming out so naturally, it's so easy to start stepping the foot and want to dance listening to her. Michael Brecker's Pilgrimage is, for me, nothing less than one of the most impressive jazz masterpieces created in a long time. Talking about a pretty song, I just love to listen to Formigueiro, an old song written by Ivan Lins.
The Neil Cowley Trio can bring some interesting textures, it's kinda 'New York oriented', even though you can tell from the very first listening they're from London, by the way they play.
I've been listening to the noturnos and La Mer, by Debussy, since as I can remember, and I like very much this recording by the Cleveland Orchestra. So much music... so little time...

terça-feira, 17 de março de 2009

Obamis


Tá certo que os eleitores do Obama nem sequer sonham em compreender a estampa ao lado. Mas pra quem conheceu o saudoso Mussum, aí vai. Só no Brasil...

terça-feira, 10 de março de 2009

O mundo diante dos olhos.


Semana passada recebi um telefonema de um grande amigo saxofonista, colega de faculdade da época de Berklee e hoje também montador de filmes; Marcio Soares.
É engraçado que, toda vez que ouço a voz dele ao telefone, imediatamente lembro das horas e horas diárias na practice room com a guitarra nas mãos, do frio da New England, das fantásticas aulas com os professores Ed Tomassi ( "you dig??"), Mick Goodrick, Hal Crook, dos divertidíssimos ensembles e concertos nas salas 1A, 1W e BPC...dos intervalos e cafés do Starbucks da Mass. Avenue ou daquele Bagel com cream cheese no Dunkin' Donuts ( que, acreditem, é muito diferente dos daqui... até hoje não sei porque). Lembro do primeiro semestre de arranjo "Chord Scales Voicings for Arranging". Éramos em cinco alunos na classe; Anat Cohen, Miguel Zenon, Alon farber, Avishai Cohen e eu. Como nos divertíamos ao gravar os nossos próprios arranjos... uma festa!
E depois de finda a longa jornada de aulas, tínhamos ainda forças para nos reunirmos nas ensembles rooms e tocarmos em animadas Jams que duravam das seis da tarde à meia noite, às vezes duas da manhã... que maravilha!
Parece que de repente me volta aquele filme todo, nítido, cristalino.
Tenho saudade do tempo em que vivíamos música vinte e quatro horas por dia. Durante dois anos e meio tocamos, escutamos, pesquisamos, praticamos música o tempo todo; um bando de malucos.
- Chico? é o Marcio! Tudo bom por aí? -  já disparando o motivo da ligação:
- Você já checou com caaalma ( assim mesmo, enfatizando o "calma") o Google Maps atualmente? É muito impressionante... precisa ver. Por exemplo, se digitar "Boston, Boylston St", abre-se aquele mapa onde visualiza-se a rua, coisa e tal. Até aí nada de mais, não é?
Pois é, acontece que há agora um ícone de um pequeno boneco no alto da página que, clicando e arrastando para uma determinada rua ou lugar... a imagem se abre bem à sua frente, como se você estivesse de corpo presente,  imagem real!!! É inacreditável. Você caminha virtualmente pelas ruas, enxergando um raio de 360º!
Eu pensei comigo "não é possível".
Desliguei o telefone e logo entrei no tal "Maps" digitando um nome de rua assim, para experimentar. Comecei por uma que conhecia bem, onde residi por dois anos e meio: "Edgerly Road". 
E qual não foi minha surpresa, um tremendo susto na verdade, quando a imagem familiar e absolutamente real (como uma fotografia em 360º) pulou na minha tela. Exatamente como meu amigo tinha descrito!
Fui me emocionando, mas ao mesmo tempo ainda um pouco cauteloso, incrédulo... era aquilo mesmo? Continuei clicando, me aproximando do meu ex-edifício, virando para um lado e outro enquanto caminhava, testando o alcance da visão oferecida pelo mapa.
Era tudo como imaginava; o jardim, o meio-fio, a entrada do edifício.
Experimentei ir até o fim da minha rua, virar à direita na Haviland St e "caminhar" em direção à Mass Ave, por um quarteirão, até a Berklee, como tantas vezes havia feito in loco.
A certa altura, já perto da escola, virei o cursor à esquerda, como se virasse a cabeça na vida real, estava ali: Starbucks! Depois virei à direita: Dunkin' Donuts. Não era possível!
Fui mais adiante clicando nas setas para enfim reconhecer... já com um sorriso no rosto, o inconfundível prédio da Universidade. A imagem retratada era de um dia de sol, parecia primavera. Não acreditei.
Fiquei ali, mais de uma hora na frente da tela, os olhos fixos, a cabeça rodando. Explorei as ruas, virando de esquina em esquina, reconhecendo cada cantinho (que surpreendentemente permanecia bem próximo do que guardava em minha memória).
Liguei de volta pro meu amigo Marcio e perguntei:
- Será que dá pra ver quem está tocando no Symphony Hall hoje?
Ele riu - Daqui há uns dois anos, quem sabe Chico... de repente até escutar o concerto virtualmente. Se estiverem tocando um Debussy, melhor ainda!
Mas aí - pensei comigo - talvez prefira estar lá primeiro, ao vivo, vendo e ouvindo, ainda que seja pra enfrentar aquele frio de lascar da New England, para aí sim, voltar pra casa e contemplar a tela... cheio de saudade.



sexta-feira, 6 de março de 2009

Good memories from Idaho.


Edu Ribeiro, Paulo Paulelli, CP, Anthony Wilson, Mike Moreno.
This picture was taken just after the gig at LH Jazz Fest.
Even taken from a phone camera it looks so nice, it brings me some good memories from Idaho.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Yes or No

I remenber as if it was yesterday... the very first time I've listened to Branford Marsalis music.
I was 12 yers old at the time, and I bought an album, Random Abstract, where they've recorded Yes or No, by Wayne Shorter,and a beautiful version of I thought about you ( a truly homage to Ben Webster) with a great quartet: kenny Kirkland, Dilbert Felix and Lewis Nash. That completely blowed my mind away, and still doing it!! (Here's a version with Bob Hurst on bass and Jeff 'Tain' Watts on drums, for me one of the best Swingin´ Quartets ever!).
This interesting video is a clip taken from a fantastic documentary called Before the music dies, by Andrew Shapter and Joel Rasmussen.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Biografias.

Li há pouco a biografia de Antonio Carlos Jobim escrita por Sérgio Cabral que, mesmo contendo inúmeros erros de português (na realidade eram erros claros de datilografia que ficaram por pura falta de revisão), me agradou muito.
Uma biografia bem escrita é sempre aquela coisa fascinante, especialmente se a vida em pauta é de alguém tão querido como Tom Jobim.
Foi interessante ver o contraste entre as visões de Sérgio e Helena Jobim, que há algum tempo também escreveu sobre o maestro o belíssimo e comovente Um Homem Iluminado
São duas abordagens tão distintas quanto amorosas sobre o compositor: a fraternal, emotiva, íntima, "caseira" de Helena e a do "grande músico, amigo e querido por todos", mais factual e detalhada sobre o artista Jobim, de Cabral. 
Isso é muito natural: sempre que houver duas ou mais versões sobre um mesmo fato, estas apresentarão cores e luzes originais, isso desde que o homem é homem.
Para ilustrar essa verdade, basta perguntar a dois amigos sobre um episódio testemunhado por ambos: tipo um jogo de futebol, melhor, uma final de Campeonato! 
Teremos no mínimo dois jogos, quiçá duas epopéias... e se forem torcedores opostos, aí é que provavelmente não reconheceremos a mesma peleja narrada por um e outro!
Um anjo pornográfico (Nelson Rofrigues); Estrela Solitária (Garrincha); Carmen (Carmen Miranda); todas de Ruy Castro, são biografias que lemos em dois, três dias. Ao mesmo tempo leves e ágeis, mas ricas em detalhes, gostosas de ler.
Já as autobiografias têm aquele "quê" de especial, de secreto. Parece que o fato do próprio biografado escrever nos proporciona um acesso privilegiado, quase irrestrito de sua história, mesmo que estilisticamente possa não ser tão bem acabado ( em muitos casos o autobiografado faz sketches, rascunhos, e acaba contando com a ajuda de profissionais que amarram tudo de forma mais inteligível, dando rítmo, etc).
Miles Davis, Santo Agostinho, Carl Gustav Jung, Sting e tantos outros escreveram memórias sobre si próprios que seguramente nenhum outro poderia fazer melhor. 
Se as passagens descritas por eles não são de todo verdadeiras, se trazem imprecisões ou mesmo criações inverossímeis, talvez isso é o que menos importe.
A viagem aqui é outra: uma possível visão poética (seja crítica, autopiedosa, complacente, convencida, bem humorada, implacável, etc) e, principalmente, "desejada"... de alguém sobre si mesmo. 
E é aí que melhor se traduz o biografado, quer ele queira ou não (em outras palavras: mesmo que procure desesperadamente se esconder, será em vão). Pois a realidade não se encontrará em palavras ou fatos, mas sim nas entrelinhas.  
Talvez nem mesmo ele se dê conta disso, nem nós, nem ninguém, graças a Deus; o imponderável!

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Música em doses generosas


Viajar sobre quatro rodas pode ser uma experiência e tanto. Sempre gostei de sair por aí, pegar a estrada.
Dependendo das condições do tempo, da boa companhia e, claro, da trilha, a jornada pode se tornar algo realmente agradável.
Essa seleção veio conosco na última viagem, voltando da Planície para a cidade grande.
Música em doses não homeopáticas:

Sting - All This Time
Nicolas Folmer ( Paris Jazz Big Band) - Fluide
Gilfema - Gilfema + 2
Gilberto Gil & Jorge Ben - Gil & Jorge
Marcos Suzano & Lenine - Olho de Peixe
Wynton Marsalis - Standard Time Vol I
Dorival Caymmi - Eu não tenho onde morar
Bernard Herrmann - Blue Denim
Gustav Mahler - Mahler Lieder

sábado, 31 de janeiro de 2009

Tudo em perspectiva.

" O mundo meu é pequeno, Senhor.
Tem um rio e um pouco de árvores.
Nossa casa foi feita de costas para o rio.
Formigas recortam roseiras da avó.
Nos fundos do quintal há um menino e suas latas
maravilhosas.
Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas
com aves.
Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco, os
besouros pensam que estão no incêndio.
Quando o rio está começando um peixe,
Ele me coisa
Ele me rã
Ele me árvore.
De tarde um velho tocará sua flauta para inverter
os ocasos."


Relendo recentemente a poesia de Manoel de Barros foram me ocorrendo alguns pensamentos assim a esmo, que depois de descansarem um tanto voltaram a despertar furtivamente em minha cabeça.
É que lendo um bocado aqui e acolá, fui me enternecendo a cada palavra, cada verso - não só pelo engenho do poeta em construir passagens profundas, singelas, ou por vezes pinceladas com finas 'tiras' de humor - mas desta vez o que mais me entreteve foi reparar a coexistência pacífica e certeira entre a regionalidade e universalidade de sua obra.
O matogrossense Manoel versava partindo daquela pequena formiga recortando a folha da roseira, as aves em revoada, os peixes no rio, as veias da terra arada, enfim, os detalhes escondidos em cada pedaço de chão, tudo era matéria prima para a 'arquitetura' de sua arte. Nas palavras dele: "As coisas que não levam a nada têm grande Importância. Cada coisa sem préstimo tem seu lugar na poesia ou na geral."
E basta um gaúcho, carioca, moçambicano ou lisboeta afeitos a um 'causo' bem contado deitarem os olhos sobre os poemas de Manoel para descobrirem a beleza neles, compreenderem e se comoverem como eu, paulistano longe de ser um expert em Pantanal, me comovi.
Enfim, a idéia que me ocorreu é a de que estamos, pouco a pouco, ficando literalmente 'anestesiados' às sutilezas que se apresentam à nossa frente, no dia-a-dia, como pedras preciosas tão óbvias e reluzentes que simplesmente não enxergamos.
Queremos ver de tudo mesmo que muito pouco minuciosamente (quanto mais e mais rápido, melhor!). Não é muito atraente repararmos com atenção só do 'pouquinho' que está à nossa volta... afinal, na corrida desenfreada da chamada fast-life ( em alusão à fast-food), como podemos prestar atenção aos detalhes? Um sorriso em uma situação momentânea engraçada, um franzir de testa num bate-papo inusitado, um comentário interessante e inesperado... tudo pode se perder, indo embora com o vento... e a vida segue.
Pois são esses, precisamente, os objetos daqueles cuja matéria prima é a pedra preciosa escondida mas reluzentemente óbvia e ululante!
São os sabidos que reparam nessas pedras de cada anel por trás da mão que as ostenta... em cada palavra; verbo, preposicão, adjetivo ou mesmo artigo por trás de uma frase ou parágrafo ... em cada tensão de cada acorde por trás de uma certa canção, em cada cantinho de uma paisagem, por mais escondido que seja.
João do Vale era assim, Guimarães Rosa idem. Jobim, Chaplin, Monk, Machado, Gershwin, Niemeyer, Calder, Garoto ... tantos outros foram assim e seguramente nosso poeta Manoel de Barros faz bonito nesse time - arquitetos da sutileza, tudo em perspectiva.
E viva a formiga, caro Manoel!

domingo, 25 de janeiro de 2009

The future of Music

Como havia comentado anteriormente, aqui vai o link para o livro organizado por Irineu Perpétuo e S. Amadeu.
Trata-se de um conjunto de textos sobre as possibilidades do futuro da música com a proliferação da mídia digital em detrimento das mídias "físicas", enfim, algo bem abrangente. Nele assino o texto "Mudança dos ventos à vista ".
Abraços!

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

SP/ janeiro... começou o ano!

Olá a todos!
Primeiro, queria novamente agradecer e dizer o quanto me honra a presença e participação de vocês por aqui, não só por tanto dinamizar o blog, mas generosamente fazer dele o que justamente se proprõe a ser : um espaço descontraído e aconchegante para se bater papo, trocar idéias, celebrar o contato entre as pessoas.
Essa semana e semana que vem há duas participações em shows aqui em São Paulo.
Uma é no concerto do meu parceiro e produtor de dois de meus cds, Swami Jr, violonista e compositor ( hoje, lá no SESC Ipiranga). A outra, embora tenha sido anunciada equivocadamente como sendo meu show, é também uma participação na apresentação do pandeirista de Jazz norte americano Scott Feiner ( dia 21, no Sesc Vila Mariana) que conheci recentemente quando toquei com Esperanza Spalding no Rio de Janeiro.
Tem também o lançamento de um livro de artigos intitulado "O futuro da música depois da morte do CD" ( dia 22, em breve publico aqui o texto que escrevi) e, por fim, um bate-papo/ workshop no SESC Consolação ( dia 24) sobre violão e guitarra, composição, improvisação, parcerias... etc.
Um abraço e bom fim de semana!

domingo, 18 de janeiro de 2009

Blindfolded listening


Hi there Folks,
This weekend I've been hearing to some interesting stuff on my Ipod while driving my car.
I must confess that in the past I use to be that kind of "against any blindfolded Ipod playlists" type of person, and that's a reason for that: I was afraid that it could happen that I fell in love with some music and, by the time I look to the screen searching for the artist's name... it's just saying: "track 4, unknown artist"; that's sad, and believe me, it happens more often than you think!
All my life I just love to seek the personnel information on any album... I mean; each player, arranger, songwriter, and so on.
Anyway, that fear vanished after I found out that: yes we can do it, to find out a certain artist "hidden" behind some lack of information!
Let's say: someone tells me about some album and I end up including it on my Ipod.
If for some reason I don't have the personnel information, or even the main artist from that album, I still can google that particular album, just having the tracks lengths... and problem solved, the rest you'll be able to find easily, Voilà!

Here we go:

Tigran Hamasyan Trio - New Era
Gabriele Mirabassi e Guinga - Graffiando Vento
Jamiroquai - Emergency on Planet Earth
João Donato - A Bad Donato
Lenine - Labiata
Toninho Horta - From Ton to Tom
Maysa - Barquinho
John Mayer - Inside wants out
Joni Mitchell - Both Sides Now
Kenny Kirkland - Kenny Kirkland

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Stand by me

I've received this from a dear friend...
I aways loved the Beatles, and John Lennon, who sang this song
beautifully ( it's a song by Ben E. King, Jerry Leiber and Mike Stoller).
So, here's another version, also great.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

One Man Band / diletantismo e profissão.

Outro dia li uma matéria sobre o historiador, ensaísta, crítico literário, professor e jornalista Sérgio Buarque de Holanda.
Fiquei admirado, pensando cá comigo: interessante como certas pessoas têm essa aptidão inerente, uma destreza natural em não apenas um, mas múltiplos campos profissionais.
No caso de Sérgio, cada um desses ofícios por ele desempenhados já trariam prestígio a qualquer trabalhador dedicado, desde que bem exercidos, evidentemente.
Mas ele não se deteve a apenas uma seara específica. Esse artigo falava justamente disso, por ocasião do recente lançamento de seu livro não publicado de contos ( área que não era a considerada de sua especialidade): A viagem à Napoles.
Enfim, fiquei divagando sobre a linha tênue entre diletantismo e atividade profissional.
Muito difícil dizer ao certo onde começa um e termina o outro, em se tratando sobretudo das artes pois, de repente, quando menos esperamos podemos estar ganhando a vida com algo novo e surpreendente, outrora considerado apenas um passatempo.
Não raro, surge-nos aquela vontade de se aventurar por outras praias, sejam as de sonho de criança ("quando crescer quero ser...") não concretizadas, ou pelo simples desejo de arriscar-se em algo original, inexplorado, enfrentando o desafio de "mares nunca dantes navegados".
A verdade é que há, sim, casos interessantes de artistas e profissionais atuantes em diferentes áreas e, em alguns casos, tão díspares quanto se possa imaginar.
Alguns deles fazem da somatória de atividades seu ganha-pão, em outros casos uma delas pode ser o refresco para a outra (geralmente a que sustenta o indivíduo), uma diversão, remunerada ou não.
Veja o caso de Guinga : sendo o fantástico compositor que todos conhecemos, também atende por " doutor Carlos Althier", no papel de dentista (hoje por puro hobbie), e aqueles que já estiveram em seu consultório garantem que também é um verdadeiro "artista" das obturações, canais e afins.
Chico Buarque, fazendo jus ao sobrenome do pai, além do compositor que dispensa quaisquer comentários, tornou-se romancista, escrevendo livros como Budapeste e Estorvo.
Ed Motta se valeu de suas habilidades de conhecedor de vinhos para criar várias cartas, menus de restaurantes e Hoteis, inclusive do Emiliano, um dos mais sofisticados de São Paulo. Dizem por aí que se sai muito bem como sommelier, apresentando ainda um programa de rádio: Empoeirado.
Caetano Veloso, que na juventude aspirava ao posto de cineasta, chegou a dirigir o filme Cinema Falado, além de ter escrito o livro Verdade Tropical. Em ambos os casos já era o magnífico compositor e cantor, que viera de Santo Amaro da Purificação para o mundo.
Vinícius de Moraes já é um caso à parte: poeta, compositor, bon vivant e diplomata... dos bons!
Charles Chaplin não se limitou a expressar a genialidade em seus impagáveis filmes, seja como ator ou diretor, mas o fez também como compositor!! Na minha opinião, escreveu uma das mais belas canções de todos os tempos: Smile ( que foi parte da trilha de Tempos Modernos, e tem até uma versão em português interpretada por Djavan).
E a lista vai longe; Luis Tatit ( professor de semiótica, ensaísta e músico), Frank Sinatra ( ator e cantor, uma combinação relativamente comum nos Estados Unidos), Paulo Vanzolini ( zoólogo e compositor, vejam vocês!), Mário de Andrade ( poeta, romancista, musicólogo, professor, crítico e ensaísta), Zé Miguel Wisnik (professor de literatura, escritor, músico), só para citar alguns pouquíssimos exemplos.
Se formos observar bem lá atrás, aí a coisa se complica e a lista se estende ainda mais, até pela formação polivalente que era tida como normalíssima, em oposição à formação especializada nos dias de hoje, de extrema conveniência ao nosso sistema capitalista à la "apertadores de parafuso", como retrataria esplendidamente Chaplin já em 1936);
Galileu Galilei( físico e matemático, escritor, filósofo...), Pitágoras (físico e matemático, filósofo, músico...). Isso sem contarmos o maior e mais brilhante exemplo de polivalência da História, Leonardo da Vinci (pintor, matemático, escultor, arquiteto, físico, escritor, engenheiro, poeta, cientista, botânico, músico...)
Uma breve reflexão nos levaria à seguinte conclusão animadora: sejam lá quais forem suas paixões, vocações, dons ou como queiram chamar... tudo vale a pena, se a alma não é pequena, já diria Fernando Pessoa ( poeta, jornalista, publicitário....)