quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Biografias.

Li há pouco a biografia de Antonio Carlos Jobim escrita por Sérgio Cabral que, mesmo contendo inúmeros erros de português (na realidade eram erros claros de datilografia que ficaram por pura falta de revisão), me agradou muito.
Uma biografia bem escrita é sempre aquela coisa fascinante, especialmente se a vida em pauta é de alguém tão querido como Tom Jobim.
Foi interessante ver o contraste entre as visões de Sérgio e Helena Jobim, que há algum tempo também escreveu sobre o maestro o belíssimo e comovente Um Homem Iluminado
São duas abordagens tão distintas quanto amorosas sobre o compositor: a fraternal, emotiva, íntima, "caseira" de Helena e a do "grande músico, amigo e querido por todos", mais factual e detalhada sobre o artista Jobim, de Cabral. 
Isso é muito natural: sempre que houver duas ou mais versões sobre um mesmo fato, estas apresentarão cores e luzes originais, isso desde que o homem é homem.
Para ilustrar essa verdade, basta perguntar a dois amigos sobre um episódio testemunhado por ambos: tipo um jogo de futebol, melhor, uma final de Campeonato! 
Teremos no mínimo dois jogos, quiçá duas epopéias... e se forem torcedores opostos, aí é que provavelmente não reconheceremos a mesma peleja narrada por um e outro!
Um anjo pornográfico (Nelson Rofrigues); Estrela Solitária (Garrincha); Carmen (Carmen Miranda); todas de Ruy Castro, são biografias que lemos em dois, três dias. Ao mesmo tempo leves e ágeis, mas ricas em detalhes, gostosas de ler.
Já as autobiografias têm aquele "quê" de especial, de secreto. Parece que o fato do próprio biografado escrever nos proporciona um acesso privilegiado, quase irrestrito de sua história, mesmo que estilisticamente possa não ser tão bem acabado ( em muitos casos o autobiografado faz sketches, rascunhos, e acaba contando com a ajuda de profissionais que amarram tudo de forma mais inteligível, dando rítmo, etc).
Miles Davis, Santo Agostinho, Carl Gustav Jung, Sting e tantos outros escreveram memórias sobre si próprios que seguramente nenhum outro poderia fazer melhor. 
Se as passagens descritas por eles não são de todo verdadeiras, se trazem imprecisões ou mesmo criações inverossímeis, talvez isso é o que menos importe.
A viagem aqui é outra: uma possível visão poética (seja crítica, autopiedosa, complacente, convencida, bem humorada, implacável, etc) e, principalmente, "desejada"... de alguém sobre si mesmo. 
E é aí que melhor se traduz o biografado, quer ele queira ou não (em outras palavras: mesmo que procure desesperadamente se esconder, será em vão). Pois a realidade não se encontrará em palavras ou fatos, mas sim nas entrelinhas.  
Talvez nem mesmo ele se dê conta disso, nem nós, nem ninguém, graças a Deus; o imponderável!

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