quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Texto para Cesar Mariano e Romero Lubambo

Esse texto me foi encomendado pelos queridos Cesar e Romero ( há algum tempo) para o lindo dvd "DUO", dos dois ( abaixo).



DUO- Cesar Camargo Mariano e Romero Lubambo

Observando bem a rica trajetória de nossa música, sobre um aspecto certamente chegaremos à seguinte conclusão: assim como no futebol, a reunião de grandes craques não garante um time que nos encha os olhos, nos arrebate. É preciso muito mais do que isso!

Apenas alguns desses raros e inexplicáveis encontros foram capazes de nos fazer rir, chorar e sorrir à toa, na certeza de que vale a pena estar nesse mundo pelo simples prazer de compartilhar destes momentos mágicos.

Assim foi com o lendário “Oito batutas”, de Donga e Pixinguinha nos anos 20, Fred Astaire e Ginger Rogers “flutuando” nos anos 30 ao som de Cheek to Cheek, o Quinteto de Miles Davis, Bill Evans e cia, o Santos de Pelé e Coutinho nos anos 60.

Com o célebre “Samambaia”, nos anos 80, aconteceu mais uma vez um desses momentos mágicos. Esse disco, de Cesar Camargo Mariano e Hélio Delmiro, simplesmente elevou a auto-estima dos instrumentistas de todo país às alturas! Era como se falássemos para nós mesmos: “ Somos brasileiros e temos Cesar Mariano e Helinho Delmiro jogando em nossa seleção, juntos!”. Para todos nós, da geração pós-Samambaia, era a mesma emoção de se ter Pelé e Garrincha jogando pelo Brasil, lado a lado.

Se o acaso muitas vezes se encarrega de trazer os melhores ventos para as boas embarcações, ele foi dos mais generosos com a música brasileira em Julho de 1996, mais precisamente no Festival de jazz de Montreaux, Suíça. Foi de um concerto por lá que nasceu mais uma dessas comunhões extraordinárias, em que Cesar Camargo Mariano e Romero Lubambo dividiram o palco sacramentando mais um encontro único.

Falar de Cesar Mariano como músico, de sua genialidade tocando, arranjando e compondo, é lugar comum tão dispensável como enaltecer qualidades artísticas em Herbie Hancock ou Quincy Jones. Não há como pensar em piano no Brasil e não pensar em seu nome. E onde Cesar coloca seu piano ou sua caneta, músicas adquirem proporções continentais!

Romero Lubambo, finíssimo e absoluto mestre do violão e da guitarra, longe do país por anos e anos e trabalhando com o que há de melhor nos Estados Unidos, pra sorte deles, é referência obrigatória em seu instrumento, uma fonte inspiradora inesgotável cultuada pelo mundo.

Agora, imaginem-se assistindo a um espetáculo desses dois craques atuando juntos com imagem e som ideais! Pois é justamente esta a boa, a grande notícia: Esse encontro acaba de ser documentado em DVD pela Trama, nos proporcionando ver o que ouvíamos no CD homônimo e ainda mais; material extra com bônus tracks, um caprichado documentário gravado nos Estados Unidos e um belo making of, histórias e imagens lindas de tudo que envolveu a realização primorosa do show.

Logo à introdução do primeiro tema, Samba Dobrado, quando as preciosas e esparsas notas do piano encontram as do violão, tem-se a certeza de que, mais do que dois músicos, estão ali no palco dois amigos que se respeitam e admiram profundamente.
Depois Choro nº 7, com lindo solo de Cesar e violão brasileiro, lírico de Romero sobre a tela impressionista dos acordes do piano. A introdução de Fotografia é um capítulo à parte, e o concerto transcorre brilhante, até a última nota!

Tudo soa sofisticadíssimo e ao mesmo tempo simples tocado por esses dois, tema após tema: Jobim, Djavan, Clifford Brown, Ary Barroso, Moacir Santos e eles mesmos, revisitados e reinventados de forma absolutamente original e brasileira.

São 15 músicas desfilando arranjos, performances e histórias tão emocionantes que fica difícil descrevê-las em palavras. Tudo que se dissesse aqui seria pouco se comparado ao prazer de se assistir ao Duo de Cesar e Romero. Ah, isso sim é que é bom!

Chico Pinheiro

2 comentários:

Marcio Soares disse...

Caraca mano!!! Agora o Hômi virou referência mesmo!!! Escrevendo no encarte do César!!! Pedrão Cunha não vai acreditar! Tinha que fazer uma camiseta "Samambaia, eu transcrevi!!!"

Parabéns rapá, essa carreira de jornalista vai longe...

abs

Mecka disse...

Chico,

Este DVD do César e do Lubambo , assim como o CD Samambaia( que o César me deu a honra de autografar , enquanto eu pedia a sua envenenada mão esquerda emprestada, rsrsr) são referências para mim. Fui tocar piano por causa do Tom Jobim, precisamente por causa de Dindi.Eu me apaixonei pela melodia aos 8 anos de idade.No mesmo ano me deparei com alguns sons inesquecíveis harmonias do César,aquilo me revirou inteira por dentro,ponta-cabeça dentro de mim e nunca mais parei de ouvir. O DVD com o Lubambo é um vício.
Posso rasgar uma sedinha, não posso? Para mim também o que é lindo de ver, é que esta fertilidade musical não parou no César, acho que de certo modo fomos todos semeados enquanto músicos e ouvintes, poetas e falantes, o resultado é bem visível no autor deste texto acima, não é Nhô Chico?
Olha estou esperando vocês em Salvador no Mercado Cultural e se rolar,quem sabe um bom papo.
Parabéns pelo texto!
Mecka do My space!