Outro dia comentava com um grande amigo músico sobre como o caminho das trilhas sonoras nos filmes vêm se modificando, se moldando nos últimos tempos, e como estas retratam tão bem uma época, sua contemporaneidade.
É interessante como Hollywood, por ser a maior e mais poderosa indústria cinematográfica do planeta, acaba funcionando como o grande termômetro, apontando tendências e estilos.
Durante a conversa reparávamos como as trilhas minimalistas vinham tornando-se mais e mais frequentes, aquelas com predominância de grooves, ritmos, mais modais... menos românticas, sentimentais, mais diretas e "sêcas", menos sinuosas. Vide "
Cidade de Deus", ou "
Ocen 11"... ou todas do Tarantino, fantásticas.
Mas é muito especial e mágico como algumas dessas trilhas podem nos marcar a tal ponto que nunca mais conseguimos esquecer aquela sensação, o impacto causado pela primeira exposição ao filme ou a uma cena. Muitas vezes isso acontece por causa da trilha... e na maioria das vezes nem nos damos conta disso ( segundo
Alan Mencken, que trabalha com a Disney, isso é justamente um sinal de que a trilha é boa, quando não a notamos mas ainda assim nos emocionamos com ela).
Lembro bem que, mais do que das cenas, do roteiro ou dos atores, nunca esqueço do tema principal de
Summer of '42 ("Verão de 42", que vi com meus pais na década de 80).
O mesmo aconteceu com "
Lolita" de Kubrick, cuja trilha composta por Nelson Riddle marejaram meus olhos logo à primeira audição.
Quem não se lembra dos temas de
Star Wars,
E.T., o
Terminal ( cujo tema principal é fantástico),
Harry Potter,
Indiana Jones,
A.I,
Jaws... todos de John Williams? Tenho uma paixão especial pela trilha de E.T.
Quando Elliot está na floresta à toda em sua bicicleta, com E.T. na cestinha da frente (refiro-me àquela sequência famosa: o inconfundível '
vôo com a Lua cheia ao fundo') no momento em que eles finalmente 'decolam' não há como não ir às lágrimas. Mas se reparamos bem, por trás daquela linda cena a trilha traz uma série de modulações e caminhos que vão nos 'conduzindo' até chegarmos finalmente no ponto culminante: o do "alçar vôo" , que é justamente quando a melodia desemboca no deslumbrate tema principal: incrível.
Mas a música pode ser para chorar, rir, ter medo... Henri Mancini (
Pink Panther),
Bernard Herrman (
Citizen Kane,
Psycho,
Taxi Driver), Lalo Schiffrin (
Missão impossível, que alguns afirmam categoricamente ser de Moacir Santos), Bob Belden (
Black Dhalia), Vangelis (
Blade Runner), Phillip Glass (
Koyaanisqatsi, Mishima, Kundun). Johnny Mandel, que escreveu a comovente
The Shadow of your smile (
The sandpiper). Mandel, assim como
Benny Golson, era também um grande compositor de séries de TV.
Artistas do universo Pop, como o irreverente Randy Newman, também deram suas contribuições. Este, por exemplo, compôs e interpretou a divertida "
you've got a friend in me", do filme '
Toy Story'. Também criou os divertidos main themes para
Bug's Life e
Monsters S.A ( este último no melhor estilo "old Swing").
Há também os grandes europeus, como um Morriconne (
Cinema Paradiso, outra pérola), um Nino Rota (
The Godfather), o próprio Michel Legrand ( Verão de 42'), mais recentemente
Alexandre Desplat (
The Curious case of Benjamin Button). E também os latino-americanos, que vêm ganhando espaço, como o recente vencedor de dois 'Oscar' (por
Babel e
Brokeback Mountain),
Gustavo Santaolalla.
Mesmo quem não seja apaixonado pos trilhas, como eu, possivelmente terá (ainda que não lembre ou não saiba!) ao menos uma que lhe é especial, "aquela", do coração . E quando se ouve logo se identifica, pois vem aquele nó na garganta, um suspiro, um sorriso.... ou ainda melhor: todos juntos!