quarta-feira, 1 de abril de 2009

Em algum lugar.

Parece que em algum lugar praticamente inacessível ao homem urbano, ali pelo meio da Amazônia de árvores altas e fauna exuberante, existe uma tribo. Uma comunidade que, dizem, por séculos permanece isolada, alheia às transformações sociais, culturais, científicas e tecnológicas como as conhecemos... do Império Acádio na Mesopotâmia às invenções do americano Thomas Edison, da Ilíada e Odisséia de Homero ao Ragtime de Jelly roll Morton, do iluminismo à proliferação maciça da televisão e mais recentemente da internet pelos quatro cantos do globo, das reformas de Solon nas leis em Atenas às inúmeras emendas aprovadas pelo Congresso brasileiro... ah, o Brasil!
Dizem que nessa tribo as crianças são tratadas como crianças, com profundo respeito, sendo integradas de forma harmoniosa e sábia ao mundo dos adultos. Às mulheres e aos homens são reservados a dignidade, justiça, compreensão, liberdade, diversão e arte, ao que todos retribuem com gratidão, generosidade, presteza e honestidade.
As regras de convivência e as "leis", são elaboradas e aprovadas eficientemente, sempre visando claramente o bem comum, nunca o individual ou parcial. E o mais curioso, são seguidas expontaneamente pela maioria, pois acreditam piamente (por algum motivo inexplicável) que se prejudicarem um semelhante arbitrariamente, estariam prejudicando a si próprios.
Portanto têm prazer em ajudar uns aos outros, mantendo-se sempre dispostos a estenderem a mão ao próximo, com leveza e bom humor. Por alguma razão que ainda não se sabe, a civilidade está em voga por lá,  praticada de forma voluntária e prazerosa.
Àqueles que são atribuídos a honrosa incumbência de representarem os demais ( por escolha aberta e democrática), aceitam tal honraria como uma missão importantíssima,  fundamental, e buscam com tanto afinco corresponder às expectativas depositadas.
Não há nenhum representante eleito dono de Castelo ou patrimônio milionário, tampouco desempregados à míngua. Não existem especuladores banqueiros nem governo corrompido, refém e cúmplice de um sistema apodrecido maior do que ele. Não há policiais corruptos, pois sem violência digna de nota não há a necessidade de policiais. Os assuntos são todos resolvidos através do teatro ( arte extremamente cultuada neste povoado), onde os oponentes envolvidos simplesmente "encenam" uma peça em que expõem suas questões e argumentam à exaustão numa espécie de  jogo, até que por fim o perdedor, graciosamente, aceita a vitória do adversário para depois beberem à saúde de todos.
Não há nem mesmo dinheiro, tudo é feito na base de escambo,  mas são avançadíssimos em matemática, astrologia, geologia e botânica, artes plásticas, música, literatura, teatro ( especialmente o de humor, à la Comédia Dell'Arte), e até filosofia.
As palavras de ordem são, como diriam os franceses:  joie de vivre! ou Horácio:  carpe diem!
Dizem que existe, SIM, essa gente...  ali no meio da floresta de árvores altas e fauna exuberante. Ou pelo menos assim quero acreditar.

3 comentários:

Evana R. disse...

Também quero acreditar que em algum lugar desse país tão grande que é o nosso haja um povo como o que você descreveu nesse belo texto. E quero mais ainda crer que um dia as próximas gerações hão de aprender algo com eles...
Descobri teu blog ontem e tô gostando bastante de lê-lo!
Abração!

Paloma Lopes disse...

chiquito, que texto lindo! sou sua fã, cara, já te disse isso?
beijos procê e pra dona lu...
paloma

Mecka disse...

Chico,
Todo brasileiro batalhador e trabalhador quer acreditar junto com você. Lendo o seu texto fiquei me perguntando sobre o que chamamos mesmo de primitivo na nossa civilização. Muitas vezes reflito que no meio da nossa organização servil a sociedade de consumo, somos detentores de uma barbárie agressiva e mal administrada.Esquecemos de nos voltar para valores simples, regras quase primitivas, que fariam a vida muito menos complicada. Essencialmente acreditamos que gentileza gera gentileza, que sabedoria gera sabedoria, que respeito gera respeito.Creio que qualquer pessoa, mesmo de dentro de uma absoluta simplicidade, concordaria com isso. Entretanto o que vemos ao nosso redor, para além de toda poesia que nos habita ( o seu texto mostra bem isso) ,é a vigência do contraste, do moral ao social, nada parece ter escapado dos dentes vorazes da sociedade de consumo e nós muitas vezes servis inconscientes a este senhor capitalista. Lembro que pequena ouvi a Elis cantar: "O Brasil não conhece o Brasil...O Brasil SOS, o Brasil". Ainda precisamos nos descobrir, sermos os Cabrais da nova era, os Pero Vaz das cartas de ex- analfabetos, os Pelés da saúde e da educação, os Chicos da sensibilidade, as Marias de muitos dons.Creio que então poderemos cantar em muitos tons, que a taça do mundo é nossa!!!
Quando leio as suas palavras, confesso que uma luz se acende na alma e penso, é possível sim mudar, tem mais de um pensando do mesmo jeito!!!
Parabéns pelo texto!
Abraços a você a Lu,
O carinho de sempre,
Mecka