domingo, 27 de junho de 2010

Zenon

Quase dividimos um apartamento em Manhatan quando terminei a Berklee.
Acabei voltando para o Brasil em 1999, mas meu amigo Miguel Zenon foi mesmo para Nova Iorque, onde continua até hoje, tocando e encantando por onde passa com seu saxofone, seja na SF Jazz Collective, com Antonio Sanchez, ou com seu próprio grupo.
Uma vez, fazíamos aula de de 'ear training' (os outros "freshmans", isto é, alunos de 1º semestre da classe eram Anat Cohen, Avishai Cohen e Alon Farber - éramos em 5) e havia um teste - solfejar um solo das décadas de 50, 60 ou 70, à escolha... nota por nota, dois chorus completos.
Lembro-me bem de ter escolhido um do Claudio Roditi que me pareceu solfejável, melódico e sobre uma harmonia que conhecia bem. Anat, se não me engano, escolheu um Wayne Shorter de VSOP. Já Zenon chegou com a trascrição de um Coltrane debaixo do braço, era "Ascent" ou coisa assim- algo praticamente impossível, sobretudo pela enorme dificuldade em se pronunciar aquelas notas todas, tamanha a velocidade. Todos nós nos entreolhamos quando ele 'sacou' a partitura e anunciou o tema e a versão escolhida.
Bom, para encurtar a história, logo no final do primeiro Chorus, estávamos todos caindo das cadeiras, de tão bizarra a cena, inclusive o professor. Ele REALMENTE estava solfejando, com nomes e tudo, e o grau de dificuldade para se pronunciar as sílabas naquela rapidez "lá - dó - mi - sooool - dó - dóoo", era algo surreal - nunca me esqueço desse episódio.
Recentemente ouvindo o último cd dele, aliás fantástico (Esta Plena), me emocionei. Zenon é craque!!

2 comentários:

Anônimo disse...

Chico,

Gostei muito do seu post porque para além de me dar a conhecer um novo músico, me fez lembrar de um momento muito prazeroso da minha vida, que foi uma viagem a Itália ao festival Umbria Jazz Winter em Orvieto, em Janeiro de 2009.

É que nesse festival ouvi e adorei um concerto onde esteve presente precisamente a Anat Cohen e o Claudio Roditi, não é curioso?? Foi no grupo do Duduka da Fonseca, e tinha também um pianista que adorei, Hélio Alves. Mas lembro que todos ficaram espantados com a apresentação da Anat, e agora descubro que ela foi sua colega :)

Bom, espero ver você um dia em Orvieto, e poder oferecer-lhe uma pizza num dos restaurantes fantásticos da cidade. Abraço!

PS. Houve ainda mais uma peripécia nesse festival. O João Gilberto, que era a grande estrela, à última hora cancelou o concerto. Mas ao João perdoa-se tudo...

Mecka disse...

Chico, ri de imaginar a cena e também fui bem longe, em umas aulas de composição, o professor pedia que escrevéssemos ou transccrevéssemos algo para solfejar. O professor numa viagem dodecafônica total, música contemporânea...vc pode imaginar os intervalos que apareciam para serem solfejados...
O professor dizia: Cante!
A gente, se esforçava para parar de rir..Mas era sério, deu para garimpar boas idéias....