Adoro Gilberto Gil.
Mais do que simples admiração, tenho por esse artista uma ligação emocional muito grande. Meus pais ouviam bastante em casa e desde sempre fui fascinado pela forma arrojada como concebia sua música, além da inconfundível performance ao violão e voz. Gil sempre esteve à frente de sua época.
Durante toda a carreira, esse criador inquieto viveu fases tão distintas quanto prolíficas (e continua), mas especialmente o final dos anos 70 e toda a década de 80, para mim foi e continua sendo dos períodos mais especiais.
A trilogia 'Refazenda', 'Refavela' e 'Realce' é incrível, segundo o próprio Gil sua versão mais amadurecida de um compromisso com as vertentes mais importantes de seu embasamento musical, desde a infância até o Gil 'pós-tropicalismo', 'pós-exílio', 'pós-África'.
Outro dia ouvi e achei curioso o Rubão Sabino, grande baixista que o acompanhava na época, comentar que durante a feitura de 'Refazenda' eles andavam ouvindo e curtindo muito a fase mais psicodélica e fusion do Miles (aliás uma fonte maravilhosa essa, que pode ser conferida mais de perto nos dois temas abaixo: "Essa é pra tocar no rádio" e "Black Satin"). Gil também cita Gonzaga, Stevie Wonder, a África e toda uma gama de artistas expressivos vindos de lá, Hendrix, a própria bossa nova, Caymmi, etc, etc.
O fato é que nunca foi homem de preconceitos musicais, tampouco de pudores em relação as suas influências, sejam quais forem - da 'music' à 'muzak', ele reprocessa e sintetiza maravilhosamente a tudo e a todos - assim é Gil.