Parece que em algum lugar praticamente inacessível ao homem urbano, ali pelo meio da Amazônia de árvores altas e fauna exuberante, existe uma tribo. Uma comunidade que, dizem, por séculos permanece isolada, alheia às transformações sociais, culturais, científicas e tecnológicas como as conhecemos... do Império Acádio na Mesopotâmia às invenções do americano Thomas Edison, da Ilíada e Odisséia de Homero ao Ragtime de Jelly roll Morton, do iluminismo à proliferação maciça da televisão e mais recentemente da internet pelos quatro cantos do globo, das reformas de Solon nas leis em Atenas às inúmeras emendas aprovadas pelo Congresso brasileiro... ah, o Brasil!
Dizem que nessa tribo as crianças são tratadas como crianças, com profundo respeito, sendo integradas de forma harmoniosa e sábia ao mundo dos adultos. Às mulheres e aos homens são reservados a dignidade, justiça, compreensão, liberdade, diversão e arte, ao que todos retribuem com gratidão, generosidade, presteza e honestidade.
As regras de convivência e as "leis", são elaboradas e aprovadas eficientemente, sempre visando claramente o bem comum, nunca o individual ou parcial. E o mais curioso, são seguidas expontaneamente pela maioria, pois acreditam piamente (por algum motivo inexplicável) que se prejudicarem um semelhante arbitrariamente, estariam prejudicando a si próprios.
Portanto têm prazer em ajudar uns aos outros, mantendo-se sempre dispostos a estenderem a mão ao próximo, com leveza e bom humor. Por alguma razão que ainda não se sabe, a civilidade está em voga por lá, praticada de forma voluntária e prazerosa.
Àqueles que são atribuídos a honrosa incumbência de representarem os demais ( por escolha aberta e democrática), aceitam tal honraria como uma missão importantíssima, fundamental, e buscam com tanto afinco corresponder às expectativas depositadas.
Não há nenhum representante eleito dono de Castelo ou patrimônio milionário, tampouco desempregados à míngua. Não existem especuladores banqueiros nem governo corrompido, refém e cúmplice de um sistema apodrecido maior do que ele. Não há policiais corruptos, pois sem violência digna de nota não há a necessidade de policiais. Os assuntos são todos resolvidos através do teatro ( arte extremamente cultuada neste povoado), onde os oponentes envolvidos simplesmente "encenam" uma peça em que expõem suas questões e argumentam à exaustão numa espécie de jogo, até que por fim o perdedor, graciosamente, aceita a vitória do adversário para depois beberem à saúde de todos.
Não há nem mesmo dinheiro, tudo é feito na base de escambo, mas são avançadíssimos em matemática, astrologia, geologia e botânica, artes plásticas, música, literatura, teatro ( especialmente o de humor, à la
Comédia Dell'Arte), e até filosofia.
As palavras de ordem são, como diriam os franceses:
joie de vivre! ou Horácio:
carpe diem!Dizem que existe, SIM, essa gente... ali no meio da floresta de árvores altas e fauna exuberante. Ou pelo menos assim quero acreditar.